Não há como escapar ao sofrimento
em nossa vida sobre essa terra e, no entanto, temos medo de sofrer e, diante de
uma situação concreta de sofrimento, nos perguntamos acerca de sua causa “Mas,
por quê?” e de seu sentido “Meu Deus, para quê?”.
Nutrimos por outro lado ilusões
acerca do sofrimento, acerca do “parar de sofrer”. Alguns acham que não
sofrerão mais a partir do momento em que ingressam em uma comunidade ou quando
se casarem, outros, quando forem ricos e famosos, quando alcançarem determinado
nível da religião tal.
Logo essas ilusões se desfazem e
nos damos conta de que o mistério do sofrimento, cuja causa é o pecado
original, não pode ser separado do
mistério de nossa humanidade. Pode, entretanto, encontrar sentido,
tornar-se fonte de vida ressuscitada, encontrar o “para quê” que transformará
sua treva em luz, sua morte em vida, seu desespero em fonte de esperança.
O sofrimento é um grande
mistério, que Jesus Cristo vivenciou de maneira perfeitíssima, dando-lhe
sentido ao ordená-lo para o amor até o extremo. A paixão e ressurreição de
Jesus e o fato de Ele ser amor, e sempre e perfeitissimamente só amar até o
fim, deu sentido ao absurdo, brutal e irracional evento de sua paixão e morte e
também a todo sofrimento humano. Em sua sabedoria, o Pai, que nos educa para
sermos santos e, portanto, maduros e felizes, retirou do mundo o sofrimento não
por sua eliminação, mas por sua elevação à ordem do amor.
Desta forma, o homem maduro e de
fé, vence o sofrimento como Cristo o venceu: em si mesmo. Ao vencê-lo, em si
próprio, pelos méritos de Cristo, o homem vence a um só tempo todo tipo de
sofrimento: interior ou exterior; causado pelos outros ou por si mesmo;
previsível ou imprevisível; causado por calamidades, doenças ou mortes.
O que importa não é saber viver
esta ou aquela contingência que nos causa sofrimento, mas, aplicando sobre o
sofrimento que tem origem no pecado o sofrimento que tem origem amor, vencemos
o sofrimento imposto pelo ódio através do sofrimento livremente escolhido por
amor, como fez Cristo. Vencemos o sofrimento em nós próprios e não no
sofrimento. Vencemos o sofrimento lutando contra nós mesmos e não contra ele!
Lutando contra nós mesmos, e não contra a pessoa que nos faz sofrer, pois a
causa do meu sofrimento não é meu irmão, mas eu mesmo, a maneira como vivo.
Texto extraído do livro "Tecendo o Fio de
Ouro", de Maria Emmir.
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