No Sermão da Montanha, quando o
Senhor Jesus fala do “coração de pobre” (Mt 5, 3), não está necessariamente
focado na condição financeira daqueles que não tem riquezas materiais. Para
saber o que significa ter um “coração de pobre”, pensemos na vida de Nossa
Senhora. Com certeza, a Virgem Maria tinha um “coração pobre”, como tinha também,
uma “condição pobre”. Quando a Sagrada família foi apresentar Jesus no templo
de Jerusalém, não diz que eles ofereceram um cordeiro, mas assim encontramos no
Evangelho de Lucas: “levaram-no a Jerusalém o apresentar ao Senhor […] e para
oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois
pombinhos” (Lc 2, 24). Esta era a oferta dos pobres, o mínimo que se podia
oferecer no Templo.
O Evangelho não diz, mas, com
certeza, quando Maria e José tiveram que fugir com Jesus para o Egito, passaram
por muitas dificuldades: alimentação, vestuário, higiene e alojamento. Quantas
carências de bens e serviços? Literalmente, eles foram excluídos socialmente.
Mas toda essa pobreza era superada, pela compreensão de estarem com o
essencial. Eles tinham “o Tudo e o Todo” que é Jesus.
Existe, quem queira ser rico,
“materialmente” falando: ter poder terreno, encher-se das vanglórias que o
mundo oferece! Mas, a nossa Mãe Santíssima, não se preocupou ou se entristeceu
por ver seu Filho nascer num estábulo (cf. Lc 2, 7). Não passou por complexos
por ter se esvaziado de tantas coisas. Afinal, ela não teve os “apegos”
humanos. O poder que ela recebeu, por sua humildade e fidelidade, foi o poder
Divino, para ser a Medianeira de Todas as Graças e para pisar na cabeça de
Satanás (cf. Gn 3, 15).
Nossa Senhora nos estimula a
buscar a uma pobreza e uma humildade tal, que nos faça mendigar pela graça de
Deus, por sua justiça e misericórdia, por sua paz e perdão. Pois, só Deus tem a
misericórdia capaz de nos restabelecer depois de nossas quedas. Mas, para
receber a misericórdia divina, precisamos nos fazer pequenos, nos abandonar nas
mãos de Deus.
A Virgem Maria e a grande
aventura da dependência de Deus
Jesus anuncia para seus
discípulos uma mudança: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque
deles é o Reino dos céus!” (Mt 5, 3). Pois, para os judeus, ser pobre, não
somente materialmente, mas também intelectual, física e socialmente, era
considerado uma maldição, uma desventura. Mas, através da Virgem de Nazaré,
Deus mostra que seu favor não depende de poder e riqueza. Ao contrário, Ele
prefere aqueles que praticam a justiça, ainda que pobres. Os “pobres de
Iahweh”2, são também chamados, em hebraico, de anawim, que significa mendigos.
Isto significa que, ainda que não sejamos pobres, ou mendigos, materialmente,
precisamos ser mendigos da graça de Deus. A Virgem Maria, no Canto do
Magnificat, já nos exortava aos valores do Reino, que estes não podiam ser
baseados na opressão e exploração (cf. Lc 1, 52).
Nossa Mãe Santíssima sabe que
muitos de seus filhos querem ser bem-sucedidos e se enchem de orgulho. Pensam
que tem um grande potencial… Para estes a Mãe de Deus, continua a apontar para
Deus, como fez naquele encontro com Isabel: “O Senhor poderoso fez em mim
maravilhas” (Lc 1, 49). Nos seus dias aqui na Terra, ela acreditava nas
providências de Deus, mas no Céu, ela sabe que o Espírito Santo de Deus pode
encher, com a Sua graça, todos aqueles que O invocam.
Assim, enquanto há pessoas que só
querem gastar e comprar constantemente, a sempre Virgem Maria, buscava se
consumir e orar incessantemente pela salvação da humanidade. O que esta Mulher
nos quer fazer entender é que precisamos acolher o senhorio de Jesus, pois só
assim, teremos o Reino dos céus! Parafraseando os santos, devemos ter um
coração de pobre: ter bens como se não possuíssemos (cf. 1 Cor 7, 30); não nos
desesperar quando perdermos algo; não nos desgastar excessivamente para manter
o patrimônio; saber compartilhar: que todos façam parte de minha pobreza e da
minha riqueza.
Mara Maria - Fundadora da Fraternidade Discípulo da Mãe de Deus
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