Muito tempo atrás, não me recordo onde, ouvi dizer que aos homens de todos os tempos, aplica-se sempre a seguinte máxima: “toda geração crê ser mais inteligente que a anterior e mais sábia que a seguinte”. Este tem sido, há pelo menos 100 anos, o grande drama do homem moderno. Quando digo moderno, refiro-me muito especificamente ao “movimento modernista”, que quis a todo custo romper com toda a história e cultura que o precederam. Com foco absoluto na destruição de tudo que considerava antiquado, o modernismo nunca teve a disposição de ponderar sobre o que erigiria sobre as ruínas da civilização, quando atingisse seu objetivo.
Ao falar sobre “ponto de vista histórico”, o Papa Bento XVI observa com muita clareza que um fenômeno típico deste homem de espírito revolucionário, a quem chamo “moderno”, é colocar-se fora da própria história, analisando-a sempre de uma perspectiva externa. Ele olha arrogantemente para o passado, como se este não tivesse nenhuma relação consigo, como se ele próprio, o homem moderno, não fosse um fruto amadurecido pela experiência dos séculos que o antecederam. Olhar para a história com este desprezo pela verdade é totalmente inútil. Se não somos parte da história, e ela de nós, então a história não possui nenhuma razão de ser estudada.
As notas explicativas nas obras de Platão e Dante, às quais se refere Papa Bento XVI, eram acrescidas nas edições publicadas nos regimes comunistas do século passado de forma a neutralizar o próprio cerne das obras. É evidente que precisamos fazer uma consideração histórica ao lermos Platão, mas esta consideração serve especialmente para situar a obra em sua forma, não em seu propósito ou intenção. A verdade buscada por Platão é ainda a mesma verdade almejada por todos nós hoje, não importa o quanto tentemos ignorar o fato. É por este motivo que os “clássicos” – não no sentido greco-romano do termo – da literatura, filosofia e das artes são chamados de clássicos: eles falam sobre temas universais, temas reais e intrínsecos a cada ser humano, independentemente do lugar de onde este último venha ou em que século tenha vivido. Sem dúvida, o caminho mais curto para a ignorância – e para o cultivo da burrice no fértil campo da arrogância – é acreditar que as gerações anteriores estão “ultrapassadas” e nada têm a nos ensinar.
Portanto, desconfie de quem está “aberto” a todas as discussões, mas não aceita nenhuma “verdade”. Se cada uma tem “a sua verdade”, não há sequer discussão viável ou necessária. Desconfie do linguajar dos que, propondo sociedades plurais, abertas, inclusivas e igualitárias, suprimem a uns e exaltam a outros, sempre de forma desigual. Desconfie dos que ultrajam e ridicularizam a Religião, dizendo ser inapropriado que hoje ainda haja quem dê ouvidos a ensinamentos ultrapassados “em pleno século 21”: este é o zeitgeist, o “espírito do tempo”, que reduz a potencial experiência do homem apenas ao seu próprio, limitado e frágil contexto imediato. A cultura é a extensão da experiência individual do ser humano; é dar-se conta de que gerações e gerações, em seus diferentes momentos históricos, viveram os mesmos medos, angústias, esperanças e amores que você e eu.
Verdades absolutas existem e a experiência dos mortos nos ajudar a conhecê-las melhor que a imprudência da maioria daqueles que simplesmente recebem maior atenção, simplesmente por ainda andarem neste mundo. Eis aí o terror absoluto do homem “moderno”.
Fonte: Diego Martins, site: Língua do Mundo
Comentários