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Quais os tipos de devoção devemos prestar à Virgem Maria?

Estudada a devoção em geral, convém agora centrarmos nossa atenção, de modo mais particular, na devoção à Virgem Maria, o que requer considerar, como um pequeno “prenotando” a este tema, o culto que lhe é devido. Quanto a isto, pois, é necessário saber que há, não dois — como às vezes se pensa —, mas, sim, três tipos de devoção, cada um em correspondência com a natureza do culto devido a seus respectivos objetos.
A devoção, ao menos em sentido estrito (enquanto ato da virtude da religião), se refere própria e diretamente a Deus, já que só a ele devemos adorar, quer dizer, prestar um culto de latria. Este culto se estende também à santíssima humanidade de Nosso Senhor, uma vez que a natureza humana assumida por Cristo está unida à pessoa mesma do Verbo. Ora, dado que amar a Deus implica amar tudo o que a ele, de um modo ou de outro, se refere, a devoção pode direcionar-se, ao menos indiretamente, aos santos e anjos por aquilo que, como dito noutra ocasião, eles têm de Deus.
Essa forma de devoção se funda, por sua vez, num culto de dulia, que não é mais do que “a honra que se deve a qualquer pessoa constituída em dignidade” [1]. Nos santos, com efeito, vemos não somente como Deus manifesta quer a sua bondade, tornando participantes de suas perfeições a simples criaturas, quer a sua misericórdia, elevando à condição de amigos íntimos a quem, sem a graça, não passaria de mero escravo e pó da terra, mas ainda a caridade de que os bem-aventurados desfrutam no céu, podendo interceder e rogar por aqueles que os invocam e veneram.
O culto que devemos tributar à Virgem Santíssima não é desse tipo: ele não é nem de latria, a que apenas Deus tem direito, nem de simples dulia, mas de hiperdulia, distinto especificamente de ambos. E a razão disto é que Maria, em virtude de sua maternidade divina — pela qual ela é, em sentido real e verdadeiro, Mãe de Deus —, pertence a uma ordem superior à ordem da graça, em que se encontram os justos, e inclusive à da glória, própria dos santos e anjos do céu. Por ser Mãe do Verbo encarnado, Maria forma parte do que os teólogos costumam denominar ordem hipostática, que é a ordem, dentro do conjunto das obras de Deus, que se refere à união numa só pessoa, ou hipóstase, das naturezas humana e divina de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Maria Santíssima é digna de veneração não só por sua exímia e singular santidade, incomparavelmente superior à de todos os anjos e santos juntos. A ela temos de venerar, também, por sua dignidade de Mãe de Deus e, por isso mesmo, pela relação tanto de parentesco — de consanguinidade — que ela estabelece com Cristo quanto de afinidade com cada uma das pessoas da Santíssima Trindade [2]. Maria foi, em resumo, a porta pela qual Deus veio ao mundo; foi nela e por ela que “o Filho de Deus se fez homem para a nossa salvação” [3], segundo o eterno desígnio do Pai de não trazer a redenção aos homens senão pela fecundidade e o consentimento de uma Virgem Imaculada, a fim de vencer, pela humildade de seu Filho e sua Mãe, os frutos da desobediência de Eva.
Já que foi “por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo”, é “também por meio dela que ele deve reinar no mundo” [4], e não há como se aproximar dele sem passar pelo instrumento de que ele mesmo se serviu para vir a nós e dispensar-nos suas graças. Eis porque, em rápidas pinceladas, devemos a esta bendita e amorosa Mãe um culto especial, uma devoção repleta de ternura e confiança filial, sem incorrer em idolatria nem rebaixar ao nível dos outros santos aquela que o próprio Deus elevou acima de todas as criaturas.

Fonte: Padre Paulo Ricardo

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