A ocasião em que um pai amoroso melhor demonstra sua ternura e afeto com os filhos é quando está no fim da sua vida e os vê reunidos, ao redor de seu leito, aflitos e com os olhos cheios de lágrimas.
Ele então transporta do coração aos lábios o resto de vida que ainda lhe resta, abraça-os, exorta-os a serem sempre bons, imprime-lhes nos rostos os mais ternos beijos e misturando as suas lágrimas com as dele dá a sua benção, depois manda trazer o que possui de mais precioso e dando a cada um uma última lembrança.
E ele então diz: Tomai e lembrai-vos sempre do amor que vos dediquei.
O mesmo quis fazer Nosso Senhor conosco, verdadeiro Pai da nossa alma e Pai tão amoroso, que na terra jamais existiu nem existirá outro igual, embora durante todo o curso de sua vida mortal Jesus tivesse nos amado ardentemente e nos dado mil provas do seu amor infinito, quando se aproximava o tempo de sua morte, Ele quis nos dar uma prova ainda mais pungente, instituindo o sacramento da eucaristia.
Com esse intuito na mesma noite que seria traído, reuniu seus discípulos e instituiu a santíssima eucaristia dizendo: Meus filhos, vou morrer por vós como prova do amor que vos tenho. Mas oculto sobre a forma do pão e do vinho eu deixo-vos meu corpo e minha alma e a minha divindade, numa palavra.
Enquanto eu estiverdes na terra nunca quero estar separado de vós, eu estarei convosco até a consumação dos séculos.
Meu irmão, o que pensas sobre essa extrema fineza concedida por Jesus Cristo? Não tinha razão, pois, Santa Maria Madalena de Pazzi ao chamar a quinta-feira santa “o dia do amor”?
Jesus Cristo não se contentou em sacrificar a própria vida para nos salvar. Quis ainda derramar-se a nós como alimento, afim de se unir intimamente à nossa alma, santifica-la continuamente com sua presença e nesta manhã tal qual um amante apaixonado que deseja ser correspondido, de dentro da hóstia sagrada observa em quanto todos se preparam para alimentar-se da sua carne divina, observa atentamente o que pensam, o que amam, o que desejam e as ofertas que irão lhe prestarem.
Meu irmão, prepara te pois para recebê-lo com a devidas disposições, reavivar a tua fé na presença real de Jesus Cristo neste inefável mistério, dilata o teu coração pela confiança, lembrando-te que Ele te ama e vem até a ti para cobrir-te de graças, humilha-te profundamente diante da sua majestade, lembrando-te que no passado em vez de amares um Deus tão bom o magoaste, voltando-lhe as costas e desprezando a sua amizade. Pede-lhe perdão e dize-lhe que a partir de agora preferirás morrer a tornar a ofende-lo, mas prepara-te, sobre tudo, para receber Jesus com amor, convidando-o com vigoroso desejo.
Afonso Maria de Ligório
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