O filme “Guerra Interior”, disponibilizado no canal do Youtube “Graça Filmes” há um pouco mais de uma semana, que rodou bastante em grupos de whatsapp como sendo uma boa indicação de filme para cristãos, demonstra bem a teologia protestante acerca da fé. Para além da crítica técnica que poderia ser feita aqui abordando as falhas grotescas referente ao enredo, aos diálogos, efeitos especiais, trilha sonora, fotografia, quero me deter, no entanto, aos aspectos antropo-teológicos expressos na produção do filme.
No âmbito da antropologia cristã o
homem é mostrado de maneira dicotomizada, há confusão entre as áreas do ser, em
sua hierarquia. A inteligência, que abarca a razão, é tida como uma área
qualquer, o coração seria a alma? Ou o espírito? Estaria ele numa condição
constante de abobamento, um “mocinho” desentendido? Confuso. A emoção só sente
ódio e raiva? Ela está em constante estado de luta e fuga? Seriam apenas essas
as expressões afetivas/emotivas do ser humano? Cansativo. A vontade não tem vontade, ela não domina os
sentimentos, a vontade não tem ação, nem determinação. A consciência é rasa e
artificial, quando, na doutrina católica, ela é compreendida como “o núcleo
secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e
onde ressoa sua voz” (GS 16). A concupiscência humana (vestígio do pecado
original que permanece no homem) é bem demonstrada nas influências e seduções
que executa nas áreas do ser. Desconsidera-se, porém, a inabitação da Trindade,
a morada de Deus no coração humano como afirma a fé católica. A bondade do
homem está na originalidade do projeto de Deus para ele, projeto este que o
pecado faz força para tornar esquecido, porém, há no homem a bondade e a pureza
originais que são, como nos ensinam os santos padres da Patrística, os sinais
claros de que o homem possui um vazio original que só pode ser preenchido por
Deus, do qual é imagem e semelhança.
No filme, no entanto, Deus é
visto como um ser acessado pela guerra e pela força. E a fé, claro, na compreensão
protestante, é subjetiva, reduzida a um momento solucional interior e não em um
encontro profundo com a verdade. A bíblia é citada como “salvação”, ou seja, a
religião é do livro e não da Pessoa. A conversão é intimista, o homem está no
controle.
Por fim, é importante ressaltar que, apesar de a Sagrada Escritura, segundo a Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II, ser a alma da sagrada teologia, ela não é a única fonte da Revelação. A ela estão unidos o Sagrado Magistério e a Sagrada Tradição, estes compõem o terreno seguro e fecundo a fim de que aquele que crê não incorra no erro de uma fé fincada puramente no criado (deísmo) ou na Bíblia com interpretações subjetivas (biblismo), mas tenha acesso, na integralidade de sua existência, à totalidade da Verdade Revelada, cuja salvaguarda está, como cremos, na Igreja Católica Apostólica Romana.
Fernanda Rosetti de Almeida Brito
Cofundadora da Comunidade Encontro
Bacharel em Teologia pelo Instituto São Tomás de Aquino
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