Quando a gente
se volta para o Senhor dizendo o que Senhor nos ensina a dizer na obediência ao
Pai: “Senhor, eis aqui o que eu quero, não faça o que eu quero mas o que tu
queres.” Quando nós fazemos essa experiência de imitar Jesus, nós
necessariamente passamos por esse caminho de perda, fazer a vontade de Deus é
ter certeza de perder: perder uma parte de si, perder seus sonhos, concepções,
projetos... se enculturar da verdade de Cristo, tomar Cristo como modelo
principal de vida. É começar olhar a vida pela perspectiva de Cristo, porque
somos da família de Deus, tomamos consciência disso e vamos percebendo que não
é mais a nossa vontade, mas a vontade de Deus. Constantemente nos vemos
chamados a perder, a dar de nós. E isso ao contrário de nos fazer perder a
nossa identidade, como alguns podem pensar, nos faz nos encontrar realmente.
Imitando a Cristo no abandono a vontade do Pai, na obediência, na entrega de
si, na perda, nós vamos nos tornando quem somos porque Cristo Jesus revela o homem ao homem.
O Verbo de
Deus se encarnou, se fez homem como nós para nos mostrar como viver,
para abrir as vias para nós. Então todos esses sacrifícios ficam como
secundários e superados pelo corpo de Cristo, porque ele tomou um corpo como o
nosso e esse corpo se fez dele oferenda ao Pai, fez desse corpo via de santificação
pela qual todos nós temos que passar. Somos integrados da família de Deus, o
Senhor dividiu e aniquilou o muro que nos dividiu. Andávamos perdidos e
distantes e o corpo que nos reuniu até hoje é Cristo, que transforma a nossa
vida. É essa a realidade e experiência que deve nos impactar fortemente para
realmente sermos novas pessoas em Cristo. Novos jeitos, novas palavras, nova
disposição de vida. Já não somos mais estrangeiros nem imigrantes porque Cristo
é o nosso modelo. O nosso modelo de servir, de viver, de olhar nos olhos.
Nós somos cheios
de vontades demais! Porque um simples movimento de renúncia nos desestabiliza
demais. Mas se não formos dóceis ao pequeno, seremos dóceis em algum momento da
nossa vida? Nós precisamos retirar de nós todos os pesos de rebeldia. Em Cristo está
a marca da perda até a última consequência. “Dei-vos tudo e ainda continuo vos
dando pela graça da minha Igreja no meio de vós.” É essa experiência que nós
precisamos tocar. Quando nós nos recusamos a obedecer o simples, nós jamais
conseguiremos obedecer o grande.
Precisamos
voltar seriamente o nosso olhar para o olhar de Cristo, porque quando olharmos
para o olhar de Cristo, ele estará olhando para a vontade do Pai. Cristo não
tirou os olhos da vontade do Pai. Quando
nós olhamos para o Pai, nós descobrimos quem somos, nós nos encontramos e
as coisas exteriores perdem a força e o sentido de nos fazer perder, de nos
desviar. Olhar os olhos do Pai é encher-se, é saber que a vontade do Pai é bem
para a humanidade e por isso que Jesus queria se alimentar dela, e esse é o
alimento que sacia, que nutre o corpo, a mente, a alma. A vontade do Pai nos
integra e ocupa nossos espaços vazios, ela nos une novamente na comunhão com o
Pai, na comunhão com os irmãos e conosco mesmo, por isso Jesus não se desviava
da vontade do Pai. Por isso que Jesus não tirava os olhos da vontade do Pai.
Jesus fazia uma experiência muito linda de olhar sempre para os olhos do Pai e não
ter medo de encarar os desafios. Da onde Jesus tirava aquelas palavras, aquelas
frases, aquelas atitudes tão acertadas? Você pode me responder “Porque ele era
Deus”. Sim, de fato ele era Deus, mas “ciosamente não se prevaleceu de sua
condição”, ele aprendeu viver a vida humana e ele se uniu ao Pai profundamente.
E se enchendo da vontade do Pai, ele enfrentava os desafios da sua missão. O
Senhor me ensinou algo em oração: Quando
nós estivermos diante de algum desafio, não pensemos tanto no desafio, pensemos
em como o Senhor nos quer e pensa a nosso respeito diante daquele desafio.
Recordemos de quem somos diante de Deus. Recorda do que Deus já te falou,
recorda das profecias, da experiência que você já teve com Deus, recorda das
vezes que os irmãos te disseram sobre seus dons e capacidades. Não se preocupe
tanto em o que vão pensar de você, mas o que Deus pensa de você. Isso muda
todo o contexto e dá outro significado. “Aquele
desafio vai ver quem eu sou. Ele verá expresso os meus dons, aquilo que eu
tenho para falar, dançar, pensar, em poder orar. Os desafios me verão porque eu
tenho os meus olhos fixos nos olhos do Pai e os olhos do Pai me amam
profundamente.” Essa é a experiência que Jesus fazia, por isso ele não
tinha medo dos desafios, ele sabia quem ele era. O Jesus Cristo, o Yeshua, o
amado dos olhos do Pai.
Aqui eu trago uma frase do meu santo amigo, São José Maria Escrivá “não tenhas espirito de caipira, dilata o teu
coração até que seja universal e católico. Não voes como aves de capoeira enquanto
pode subir como as águias. ” E em outro trecho de um livro ele diz assim
“certa vez vi uma águia numa gaiola de ferro. Estava suja, meio depenada, tinha
entre as garras um pedaço de carne podre. Ocorreu-me pensar no que seria de mim
se abandonasse a vocação recebida de Deus. Fiquei com pena daquele animal
solitário, enjaulado, que tinha nascido para voar muito alto e olhar o sol de
frente. Podemos remontar até às humildades alturas do amor de Deus, do serviço
aos homens, mas para isso é preciso que não haja recantos escondidos na alma,
onde não possa entrar o sol de Jesus Cristo. Temos que jogar fora todas as
preocupações que nos afastam dele e assim “cristo
em tua inteligência, cristo em teus lábios, cristo em teu coração, cristo em
tuas obras. A inteligência, toda a vida, o coração, as obras, as palavras,
todas saturadas de Deus.” (Livro “Cristo que passa”)
O Cristo passa
e se mostra para nós: Eu, homem como você, te mostro como você deve ser e de que
forma Deus quer a sua vida. Nos olhos do Pai encontraremos sempre a vontade
Dele, portanto não tiremos os olhos Dele. Vamos à procura desse olhos nos
nossos irmãos, na vida de oração, na fidelidade a Deus, na comunhão, na vida
fraterna. Voar alto e encarar o sol de frente. Não somos aves de capoeira, somos
o plano de Deus para a humanidade, não nascemos para ficar escondidos, nascemos
para voar!
Trecho da Pregação “Os
olhos do Pai revelam quem somos” de Fernanda Rosetti.
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