No Natal, celebramos o sublime mistério da encarnação do Filho de Deus, “a humanidade do nosso Deus”. Fazemos festa, cantamos, damos presentes e saudamos os outros com votos de feliz Natal. Procuramos viver em paz e harmonia com todos e abrimos o coração aos pobres. Que bom que tudo isso acontece! A festa cristã acaba contagiando também a quem não crê como nós, nem conhece o motivo.
A Igreja proclama e celebra no
Natal um mistério inaudito, imensamente grande e, ao mesmo tempo, próximo de
nós, que choca e deixa incrédulos a muitos. Cabe aos cristãos recordar e
testemunhar sempre de novo o motivo de tanta festa. Mais ainda: cabe-nos
convidar todos a acolher o grande mistério celebrado: o Filho de Deus, Jesus
Cristo, nosso Salvador, nascido humanamente da Virgem Maria. Esta verdade, tão
grande e bela, não pode ficar esquecida, encoberta por exterioridades ou pelos
simbolismos que a envolvem.
Na fé cristã, nós proclamamos sem
meias palavras que o Filho de Deus veio ao mundo e nasceu de uma mulher, a
Virgem Maria. Professamos em nossa fé que a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade uniu a si nossa natureza humana, sem deixar de ser o Filho eterno e
permanecendo inseparavelmente unido ao Pai e ao Espírito Santo. Proclamamos que
o Filho eterno, nascendo de Maria, tornou-se “Deus visível aos nossos olhos”,
uniu a nossa pobre condição humana à sua natureza divina!
Mais ainda: o Filho de Deus,
vindo ao mundo, uniu em sua pessoa o céu à terra, a divindade à humanidade.
Nele, o grande Deus, imensamente poderoso, tornou-se próximo da humanidade, de
cada pessoa, e assumiu também a nossa fragilidade e pequenez e viveu a
precariedade de nossa existência humana. Ninguém mais precisa procurar Deus nas
nuvens, nem na imaginação abstrata: cada um pode se achegar a Ele, acolhendo a
humanidade do Filho de Deus na humanidade de cada irmão, igual à do Filho de
Deus.
É por isso que cantamos, com os anjos, as
glórias de Deus que se manifestaram entre nós no nascimento de Jesus! Por isso,
também, convidamos a todos, cantando: “Ó vinde todos, adoremos!” É por isso,
também, que cada ser humano é tão precioso, pois possui uma dignidade
altíssima: o Filho de Deus tornou-se semelhante a cada pessoa humana e lhe deu
uma dignidade que somente Deus podia dar.
E também é por isso que convido
todo o povo de São Paulo a viver, com intensa alegria e gratidão a Deus, este
dia da fraternidade universal. Em Cristo, somos “Fratelli tutti’ – todos
irmãos’”! Ninguém mais nos pode ser indiferente ou parecer desprezível. É por
isso que os cristãos têm uma proposta para a vida em sociedade: edificar um
mundo irmão, em que cessem injustiças, violências, preconceitos, ódios,
indiferenças, egoísmos.
Que a celebração do Natal renove
em todos o propósito de edificar um mundo de irmãos nesta casa comum, na qual
Deus também fez morada para estar no meio de nós. Desejo feliz e santo Natal a
todos! E que o novo ano venha com bênçãos abundantes e nos traga esperança e
coragem para testemunhar a boa mensagem do Natal!
Cardeal Odilo
Pedro Scherer - Arcebispo de São Paulo
Fonte:
Arquidiocese de São Paulo
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