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Jejuar e Orar

O jejum fortalece a oração porque torna a pessoa que reza mais desperta. A comida nos torna satisfeitos e sonolentos. Ao jejuar ficamos acordados e abertos para o espiritual, abertos para Deus, permeáveis para o Espírito de Deus. Por isso, recomenda-se jejuar também em cursos de meditação, porque o jejum apoia a meditação. Com o estômago cheio é difícil rezar bem, ou, pelo menos, a oração adquirirá facilmente um caráter de autossatisfação. Nesse estado, a pessoa confunde facilmente seu bem-estar corporal com a benevolência de Deus. Kierkegaard caricatura essa atitude em seus diários:

O amor do burguês a Deus surge quando a vida vegetativa está em plena atividade, quando as mãos se põem satisfeitas sobre o estômago e quando, da cabeça recostada numa poltrona macia, um olhar sonolento se eleva ao céu.
Nesse amor burguês, Kierkegaard sente falta daquele temor sem o qual não podemos amar a Deus enquanto Deus. O jejum nos ensina o temor de Deus, torna-nos humildes, como ensinam os Padres da Igreja. Produz em nós, como diz Gandhi, "a consciência de que não devemos nos aproximar de Deus no orgulho arrogante de nossa própria força, mas unicamente na mansidão dos fracos que se entregam".
Ao jejuar, a pessoa se entrega a Deus. Apresenta-se a Todo-Poderoso humildemente em sua impotência e o adora. O jejum é adoração. Ao adorar a Deus, uma pessoa já não quer nada para si mesma, mas se inclina diante de Deus, que é maior. Ao jejuar, o ser humano se inclina com seu corpo, esgotado pela fome, diante do Deus eterno, que é o único capaz de satisfazer sua fome mais profunda. Clama a Deus com seu corpo. Mantém aberto o vazio do nada que se abre no ser humano enquanto criatura.
O Antigo Testamento descreveu a queda no pecado como o consumo do fruto proibido, querendo dizer com isso que os seres humanos “tentam em sua angústia, fechar o vazio em sua existência se tornarem como Deus e para criar, eles base (ausente) de sua existência - que não tem fundamento em si mesma - por meio do seu próprio esforço e desempenho". Com sua interpretação psicológica da narrativa da queda do pecado, Drewermann quer dizer que o impulso humano de comer ou, de modo mais geral, o impulso oral presente no ser humano que procura juntar tudo dentro de si é, em última análise, "a ânsia existencial de fechar a fenda do nada". Se o ser humano não quer aceitar sua própria nulidade, precisa devorar o mundo inteiro para se tornar como Deus, a quem não falta nada.
Ao jejuar, o ser humano reconhece sua condição de criatura, o vazio do nada que determina sua existência, e adora a Deus enquanto seu criador, enquanto a existência infinita e eterna, que é o único que pode remediar sua falta de existência".
Entre os antigos monges, o tema do jejum e da oração aparece principalmente relacionado com as vigílias. Vigiar a noite toda é uma prática popular entre os monges para poderem persistir em sua vigilância interior diante de Deus. O jejum cria a condição para que o monge possa vigiar à noite diante de Deus.
Assim como a luz é uma alegria para olhos sadios, assim o jejum moderado é um requisito para a oração. De fato, assim que alguém começa a jejuar, sente-se imediatamente impelido em espírito a conversar com Deus. Um corpo que jejua não aguenta passar a noite inteira em seu leito, pois o jejum motiva muito naturalmente para vigiar na companhia de Deus, não somente durante o dia, mas também à noite. O corpo da pessoa que jejua não tem grande problema de lutar contra o sono. Por mais fracos que seus sentidos possam ser, pelo menos o coração vela: ele clama por Deus."
Enquanto as outras pessoas estão dormindo, os monges querem ficar vigiando. Em suas vigílias, esperam a vinda do Senhor. O Senhor vem àquelas pessoas que o esperam. À noite, o monge sente-se mais próximo de Deus: nada o atrapalha e nada o distrai. A noite é o momento da mais profunda experiência de Deus. No entanto, vigiar não está apenas relacionado com o encontro imediato com Deus, com a vinda de Deus no presente, mas se estende para a vinda definitiva do Senhor, a segunda vinda de Cristo na glória, para o momento em que o mundo experimentará sua perfeição.

Fonte: Livro - Jejuar, corpo e alma em oração - Anselm Grun

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