O matrimônio existe para que aqueles que o contraem se santifiquem através dele: para isso os cônjuges têm uma graça especial conferida pelo sacramento instituído opor Jesus Cristo. Quem é chamado ao estado matrimonial encontra nesse estado — com a graça de Deus — tudo o que necessita para ser santo, para se identificar cada dia mais com Jesus Cristo, e para levar ao Senhor as pessoas com quem convive.
Por isso penso sempre com esperança e com carinho nos lares cristãos,
em todas as famílias que brotaram do Sacramento do Matrimônio, que são
testemunhos luminosos desse grande mistério divino — sacramentum
magnum! (Ef 5, 32), sacramento grande — da união e do amor entre Cristo e
a sua Igreja. Devemos trabalhar para que essas células cristãs da sociedade
nasçam e se desenvolvam com ânsia de santidade, com a consciência de que o
sacramento inicial — o batismo — confere já a todos os cristãos uma missão divina,
que cada um deve cumprir no seu próprio caminho.”
Tudo o que é preciso para serem santos
"O esposos cristãos devem ter a consciência de que são chamados a santificar-se santificando, de que são chamados a ser apóstolos, e de que seu primeiro apostolado está no lar. Devem compreender a obra sobrenatural que supõe a fundação de uma família, a educação dos filhos, a irradiação cristã na sociedade. Desta consciência da própria missão dependem, em grande parte, a eficácia e o êxito da sua vida: a sua felicidade.
Mas não esqueçam que o segredo da felicidade
conjugal está no quotidiano, não em sonhos. Está em encontrar a alegria
escondida de chegarem ao lar; no trato afetuoso com os filhos; no trabalho de
todos os dias, em que toda a família colabora; no bom-humor perante as
dificuldades, que é preciso enfrentar com esportivismo; é também no
aproveitamento de todos os avanços que nos proporciona a civilização, para
tornar a casa agradável, a vida mais simples, a formação mais eficaz.
Àqueles que foram
chamados por Deus para formar um lar, digo constantemente que se amem sempre,
que se amem com aquele amor entusiasmado que tinham quando eram noivos. Pobre
conceito tem do matrimônio — que é um sacramento, um ideal e uma vocação — quem
pensa que a alegria acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida
sempre traz consigo. Aí é que o amor se torna forte. As enxurradas das mágoas e
das contrariedades não são capazes de afogar o verdadeiro amor: une mais o
sacrifício generosamente partilhado. Como diz a Escritura, aquae multae
— as muitas dificuldades, físicas e morais — non potuerunt extinguere
caritatem (Cant. 8, 7) — não poderão apagar o carinho."
Não rebaixar o dom da caridade
"Pedi ousadamente ao Senhor este tesouro, esta virtude sobrenatural da caridade, para levá-la à prática até o seu último detalhe.
Com freqüência nós, os cristãos, não soubemos corresponder a esse dom; às vezes o rebaixamos, como se não passasse de uma esmola sem alma, fria; ou o reduzimos a atitudes de beneficência mais ou menos formalista. Exprimia bem esta aberração a resignada queixa de uma doente: Aqui tratam-me com caridade, mas minha mãe cuidava de mim com carinho. O amor que nasce do coração de Cristo não pode dar lugar a esse gênero de distinções.
Para que esta verdade se gravasse de uma forma plástica na vossa cabeça,
preguei em milhares de ocasiões que nós não possuímos um coração para amar a
Deus e outro para querer bem às criaturas: este nosso pobre coração, de carne,
ama com um carinho humano que, se estiver unido ao amor de Cristo, é também
sobrenatural. Esta e não outra é a caridade que devemos cultivar na alma, a que
nos levará a descobrir nos outros a imagem de Nosso Senhor." (Amigos de Deus, n. 229)
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