Ao contrário do que muitos podem pensar, os sete sacramentos não são apenas “rituais simbólicos” com fins pedagógicos. Os sinais sensíveis do Batismo, da Eucaristia e da Confirmação, bem como as celebrações dos outros quatro sacramentos da Igreja, certamente podem ensinar muito ao povo cristão, mas a sua ação principal consiste em infundir a graça santificante nos homens. Diferentemente dos sinais humanos, que só remotamente reportam ao que significam, “os sacramentos da Nova Lei são, ao mesmo tempo, causas e sinais”, diz S. Tomás de Aquino. Eles não só simbolizam, como “efficiunt quod figurant — realizam o que representam” (STh III 62, 1 ad 1).
Para entender como eles atuam, é importante considerar a ligação desses sinais com a humanidade da Pessoa de Cristo e com a sua Paixão. Essa empresa é levada a cabo de modo brilhante pelo Doutor Angélico (cf. STh III 62, 5), que ensina o seguinte:
O sacramento opera causando a graça a modo de instrumento. Há, de fato, dois tipos de instrumento: um separado, como o báculo; e outro conjunto, como a mão. Pelo instrumento conjunto se move o instrumento separado, como o báculo é movido pela mão. A principal causa eficiente da graça é o próprio Deus, a quem a humanidade de Cristo é comparada como instrumento conjunto e o sacramento, como instrumento separado. Por isso, é oportuno que a virtude salvífica provenha da divindade de Cristo por sua humanidade nos próprios sacramentos.
Vê-se que a graça sacramental se ordena a duas coisas principais: tirar as faltas dos pecados passados — já que, passado o ato, permanece a culpa — e aperfeiçoar a alma no que pertence ao culto de Deus segundo a religião cristã. É manifesto que Cristo livrou-nos de nossos pecados principalmente por sua paixão, não só de modo eficiente e meritório, mas também satisfatório. De modo similar, pela sua paixão, iniciou o rito da religião cristã, oferecendo-se a si mesmo como “oblação e vítima a Deus” (Ef 5, 2). De onde é manifesto que os sacramentos da Igreja tiram a sua força principalmente da paixão de Cristo, com cuja força somos colocados em contato pela recepção dos sacramentos. Como sinal dessa conexão, do lado de Cristo pendente na cruz fluíram sangue e água, um referente ao batismo e o outro à Eucaristia, que são os principais sacramentos.
Na Cruz, portanto, Jesus morreu pela humanidade inteira, estendeu a salvação para absolutamente todos os homens. Embora tenha padecido por todos, porém, Ele não salva senão muitos (cf. Mt 26, 28; Mc 14, 24), e isso não por um defeito de sua obra redentora — os méritos de Cristo em sua paixão são suficientes para salvar a toda a espécie humana, desde Adão e Eva até o último homem da história —, mas por conta dos próprios homens, livres que são para aceitarem ou negarem a Deus. “Poculum humanae salutis habet quidem in se, ut omnibus prosit; sed si non bibitur, non medetur — O cálice da salvação humana certamente tem em si que sirva em proveito de todos, mas, se não for bebido, não cura” (Sínodo de Quiercy, mai. de 853: DH 624).
Para que a redenção atue eficazmente em nossas vidas, Cristo fixou um período, que vai desde a sua Páscoa até o Fim dos Tempos, e que se chama de “economia sacramental”. Neste tempo, a Segunda Pessoa da SS. Trindade, Deus feito homem, age à semelhança de um carpinteiro pode muito bem infundir a sua graça diretamente nas pessoas, mas quer (potest, vult) fazê-los por meio da humanidade de Cristo e dos sacramentos, esses sinais sensíveis que servem de instrumento para a sua ação nas almas.
Quem quer colocar-se em contato com a carne de Cristo, portanto, basta que se aproxime dos sacramentos da Igreja. Para ganhar fruto, porém, mais do que simplesmente recebê-los, é preciso fazê-lo com fé (Jo 5, 25-34). Os sacramentos são sinais verdadeiramente eficazes (ex opere operato) da graça de Deus, mas só geram frutos na vida daqueles que se abrem dócil e generosamente à ação divina, isto é, que não lhes põem óbice.
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