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Qual a identidade do sacerdote?

 


Homem de Deus

Para compreender o grande dom e mistério que é o Sacerdócio, faz-se necessário partir de Jesus Cristo. O sacerdote encontrará sempre e somente em Cristo a fonte da sua própria identidade. A grandeza e a beleza do Sacerdócio consistem, justamente, no chamado a ser outro Cristo. O ser e agir em Cristo passa a ser a medida da vida de cada homem, que é chamado a configurar-se a Cristo Sacerdote. Portanto, nunca deverá ser o mundo, as circunstâncias sociais e até mesmo as mudanças de épocas que deverão, de algum modo, definir a essência do Sacerdócio, pois há uma única fonte de revelação e definição deste Mistério Divino, em favor da salvação da humanidade.

O sacerdote encontra, enfim, a sua identidade mais profunda no próprio Cristo, que é o Sumo Sacerdote e Mediador da nova e eterna Aliança (Cf. Hb 4,14). No Novo Testamento, Jesus Cristo é apresentado como o único Mediador entre Deus e os homens, Ele que se entregou em favor de todos (Cf. 1Tm 2,5-6).

O sacerdote, por meio de uma configuração que transforma a sua vida profundamente, torna-se “in persona Christi”, mediador entre Deus e os homens. Escolhido dentre os homens, este passa a existir em favor dos homens (Cf. Hb 5,1). O sacerdote está marcado com o selo do sacerdócio de Cristo para participar da sua função e missão. Desta união sacramental a Jesus Cristo, vemos que o sacerdote é um homem de Deus, por isso ele é chamado a viver esta união profunda por meio da intimidade divina, é chamado a ser um “especialista” dos mistérios divinos para assim comunicar aos homens.

Homem para os outros

Desta vida inteiramente vinculada ao Senhor, se abre para o sacerdote um imenso campo de testemunho na vida da Igreja que o torna, também, um homem para os outros. Como afirmava o Santo Cura d´Ars, ele não existe para si mesmo, mas para os outros. Somente na oferta de vida, o sacerdote encontra o sentido da sua ordenação sacerdotal, que visa à salvação dos homens.

A sua oferta se inspira na oferta do Senhor, que veio para servir e não para ser servido, para entregar livremente a sua vida e não para retê-la. Esta doação se dá pelo anúncio da Palavra, pela celebração da Eucaristia, pelo ministério da Misericórdia, pela administração dos sacramentos, como também através de cada ato solícito de caridade pastoral para com cada homem e, de maneira particular, para com os mais necessitados.

Tendo em Cristo a raiz e fonte de inspiração por natureza, o Sacerdócio é na Igreja e para a Igreja. Ele é chamado, por amor, a oferecer toda a sua vida de uma maneira esponsal pelo bem da amada Igreja. Por meio do mistério eucarístico, Cristo oferece-se sempre de novo. Deste modo, de maneira especial na Eucaristia, nós aprendemos o amor de Cristo e, por conseguinte, o amor à Igreja.

O Bom Pastor

Por, com e em Cristo, o Bom pastor é chamado também a dar a sua vida pelas ovelhas, tendo um profundo amor pelo homem. O sacerdote é portador da graça de Cristo, eterno Sacerdote, e do carisma do Bom Pastor. Esta verdade ele nunca pode esquecer e também nunca renunciar. Portanto, deve realizar este ideal a todo o momento, em todos os lugares e de todas as maneiras para com todos, sem distinção de pessoas, como afirmava João Paulo II. O Bom Pastor conhecia as suas ovelhas e era por elas conhecido (Cf. Jo 10,14), isso significa que exercer o bom pastoreio passa pelo conhecimento profundo do coração do homem, para poder guiá-lo no Caminho e na Verdade que conduzem a Vida.

Portanto, o nosso ministério é como diz Santo Agostinho, amoris officium (In Iohannis Evangelium Tractatus, 123,5), é o ofício do bom pastor, que oferece a sua vida pelas ovelhas (cf. Jo 10,14-15). O Bom Pastor, conhecendo cada uma das suas ovelhas, as conduzia a cada momento. Deste modo, o sacerdote é chamado a saber guiar as pessoas que Deus confia, direta ou indiretamente, ao seu ministério sacerdotal.  Escrevia São Gregório Magno: “A arte de guiar as almas é a arte das artes”. Diante do grande bem que é um pastor, segundo o coração de Deus, podia afirmar São Cura d´Ars: “Um bom pastor, um pastor de acordo com o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia, e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina”.

Do exercício fiel ao ministério que lhe é confiado, o sacerdote é santificado pela força da graça divina que age constantemente na sua vida, de modo muito particular, e, ao mesmo tempo, é ministro de santidade para aqueles que são confiados ao seu pastoreio. Nesta perspectiva, afirmou João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores dabo vobis: “A nova evangelização tem necessidade de evangelizadores novos, e estes são os presbíteros que se esforçam por viver o seu sacerdócio como caminho específico para a santidade” (n. 82). “Oh, o sacerdote é algo realmente grande!” É o que constatava Cura d´Ars diante deste grande dom.

O sacerdote é outro Cristo e a cada dia, por meio do Sacerdócio, ele vai descobrindo este grande dom, mistério e missão. O mais belo é também perceber que tudo isso passa e se realiza por meio da pobre fragilidade humana, que não é destruída pela grandeza divina, mas assumida, desposada e transformada por Ele, revelando-nos a verdade mais profunda de nós mesmos.

Diante de tudo isso, se pode notar o quanto o Sacerdócio é um precioso dom de Deus para a vida da Comunidade Shalom. O sacerdote deve ser um homem de contemplação e ação como Jesus Cristo o foi. Ele é um homem entre Deus e os irmãos e, por isso mesmo, também um irmão entre os irmãos, é gerador de vida reconciliada no seio da comunidade, um autêntico discípulo e ministro da Paz. Um pastor que, por meio de um coração esponsal e universal, está a serviço de todos. Um “artista” que a cada dia conduz com arte as pessoas para Deus e para a sua santíssima vontade.

Que grande Mistério pronunciar as palavras de Cristo: “Isto é o meu Corpo”, “Isto é o meu sangue” e contemplar o milagre da transformação das realidades humanas em divinas. Como é edificante para o confessor e consolador para o penitente escutar do sacerdote, em nome de Cristo e com a Sua autoridade, a sentença de misericórdia e de vida: “os teus pecados estão perdoados, vai em paz”.

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Bíblia do Peregrino, Editora Paulus, São Paulo, 2002.
João Paulo II, Carta Apostólica, Pastores dabo vobis, (1992).
Carta do sumo pontífice João Paulo II, a todos os sacerdotes da Igreja por ocasião da quinta-feira santa, 08 de abril de 1979.

Padre Rômulo dos Anjos

Missionário da Comunidade Católica Shalom

Fonte: Com. Shalom

 

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