O modo de vida que Jesus levou
nesta terra, com o qual se escandalizam hoje alguns fariseus, é o mais perfeito
exemplo de como deve ser a nossa vida sob o jugo suave da Nova Lei: mais do que
jejuns e penitências, que não devemos desprezar, o que realmente importa —
aquilo sem o qual a própria mortificação perde sentido — é a caridade. Por meio
de Cristo, com efeito, Deus cumpre o que prometera por boca do profeta
Ezequiel: “Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo;
tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (Ez
36, 26). A vida cristã, desse ponto de vista, não pode resumir-se a uma
obediência externa a uma tantas “regrinhas” de comportamento; não é um tipo de
“legalismo” que se satisfaz com a observação de certo número de preceitos. A
justiça de nossas ações, a delicadeza e o respeito do nosso trato com Deus,
tudo isso deve brotar de dentro, de um coração que ama, que se deixa envolver e
transformar pela graça divina.
É por isso que o Senhor se
apresenta primeiro como Esposo: “Enquanto o noivo está com eles”; é só o amor
sincero e alegre deste Esposo o que justifica e dá verdadeiro sentido às nossas
práticas penitenciais: “Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do
meio deles; aí, então, eles vão jejuar”. Não podemos, pois, ser como os
fariseus, que pretendiam, à força de sua mortificação pessoal, apresentar-se
limpos aos olhos de Deus; nós, ao contrário, sabemos que Ele já nos ama, apesar
da nossa impureza. Foi Ele quem deu o primeiro passo e, revelando-nos o amor
que nos tem, veio estar conosco; agora, enquanto ainda não o vemos, precisamos
converter a nossa penitência e todas as práticas de nossa vida religiosa em
outros tantos de meios de responder com amor ao seu amor divino e preparar o
nosso coração para o grande dia, o dia em que celebraremos com Ele no céu
nossas bodas eternas.
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