À medida que cresce na mídia a tendência do “politicamente correto”, que, na versão católica do Papa Bento XVI, pode-se traduzir como “ditadura do relativismo”, alguns católicos, líderes e, às vezes, pregadores parecem ter medo de assumir a verdade integral pregada pela Igreja.
Nota-se certo receio de “ir contra a corrente”, contra a vontade da maioria, esquecendo-se de que Jesus é “sinal de contradição”, e que por isso foi perseguido e crucificado, para não deixar de dar testemunho da verdade que salva. A verdade não depende da maioria, mas de si mesma.
Sem a verdade não há salvação. Jesus disse diante de Pilatos que veio ao mundo “para dar testemunho da verdade” (cf. Jo 18,37) e aceitou morrer para testemunhá-la. E deixou claro que “a verdade vos libertará”.
Assim, a verdade não pode ser passada “pela metade”, pois se torna perigosa mentira. Sabemos que uma meia verdade é pior que uma mentira. Não podemos pregar o Evangelho pela metade, deixando de mostrar especialmente aquilo que visa destruir o pecado e levar o pecador à conversão. Por exemplo, a frase “Não podemos comer comida estragada”, está correta e é muito importante; mas, se eu disser só a metade da frase: “Não podemos comer comida”, muitos vão morrer de fome. Entendeu por que a meia verdade é pior do que uma mentira?
“Mutatis mutandis” (mudando o que deve
ser mudado), noto que alguns ensinam a fé católica em meias verdades. Como? Ao
apresentarem uma questão, expõem apenas uma parte da verdade sobre o assunto,
deixando de falar do pecado e das exigências de conversão. Por essa razão, não
podemos, por exemplo, dizer apenas, aos casais de segunda união, que eles não
devem se afastar da Igreja e que não podem ser discriminados, etc., sem
lhes dizer também que a situação deles não é lícita diante do Evangelho e que
não podem receber os sacramentos.
Da mesma forma, é claro que temos de acolher, respeitar e não discriminar os homossexuais, e amá-los como verdadeiros irmãos, mas não podemos deixar de lhes dizer que o Catecismo da Igreja Católica considera a prática homossexual (não a tendência) como “depravação grave” (CIC § 2357), tendo em vista que “a tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados” (idem).
Quando se fala aos jovens sobre masturbação e fornicação (sexo realizado por pessoas não casadas), alguns tendem a minimizar a gravidade desses pecados, e alguns até têm a coragem de dizer que não são pecados, quando o Catecismo diz o contrário: “Entre os pecados gravemente contrários à castidade é preciso citar a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais” (CIC § 2396).
Santo Agostinho dizia: “Não se imponha a verdade sem caridade, mas não se sacrifique a verdade sem caridade”. Como declarou o Papa Bento XVI, na “Caritas in veritate”, “caridade sem verdade é sentimentalismo”. Jesus perdoou a mulher adúltera e a salvou da morte, mas não deixou de mostrar a ela o seu grave pecado: “Vá e não peques mais”. Sem mostrar o pecado ao pecador ele não pode se libertar da morte espiritual.
O profeta Ezequiel, em dois capítulos
(3,18 e 33) também chama a atenção para a necessidade de se corrigir o pecador:
“Se digo ao malévolo que ele vai morrer, e tu não o
prevines e não lhe falas para pô-lo de sobreaviso devido ao seu péssimo
proceder, de modo que ele possa viver, ele há de perecer por causa de seu
delito, mas é a ti que pedirei conta do seu sangue. Contudo, se depois de
advertido por ti, não se corrigir da malícia e perversidade, ele perecerá por
causa de seu pecado, enquanto tu hás de salvar a tua vida” (Ez 3,18-19).
“Se eu disser ao pecador que ele deve morrer, e tu
não o avisares para pô-lo de guarda contra seu proceder nefasto, ele perecerá
por causa de seu pecado, mas a ti pedirei conta do seu sangue” (Ez 33,8).
Professor Felipe Aquino | Fonte: cancaonova.com
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