Pular para o conteúdo principal

"FAÇA-SE EM MIM" OU "FAÇO EM MIM?"

Tudo começa no sim... de Maria!


"Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua palavra”. E o anjo afastou-se dela." Lc 1, 38

A resposta, o abandono, a entrega, a correspondência, a confiança, o encontro, tudo parte do sim. E na vida de Maria não foi diferente, aliás, sua vida inaugurou uma via de santificação que tocou a humanidade naquela época e vem tocando e transformando até hoje e onde ela passa, torna-se capaz de reverter caminhos, situações, vidas que são alcançadas pela sua resposta sincera. “SIM”, palavra de uma força imensa que atingiu toda a humanidade! Nunca vi uma resposta perdurar e permanecer na vida de tantas pessoas, mas esse tenho certeza, ficará até o fim de tudo. 

Na vida de Nossa Senhora encontramos todas as características que um santo precisa ter, os caminhos que ele precisa percorrer e as virtudes que ele precisa alcançar para ser quem Deus deseja que ele seja. Um “SIM” sincero abre vias interiores e exteriores para que toda essa vontade de Deus aconteça, permite enxergar aquilo que nossos olhos não podem ver, nossas mãos não podem alcançar, nossos lábios não podem falar e o nosso coração por si, não é capaz de sentir. Mas as consequências de um “SIM” verdadeiro à Deus, fazem tudo virar de cabeça para baixo e sair o que nos impede de chegar até Deus e vê-Lo, tocá-Lo, senti-Lo…

“A doçura canta no silêncio dela – pensava o Filho -, um silêncio branco, como quando caem os flocos de neve. Sempre tem à flor dos lábios uma palavra mágica: Faça-se. Cada vez que a pronuncia, parece revestida de uma beleza que não é deste mundo. Quando os ventos da adversidade batem em nossas portas, ela permanece serena como a rosa de Sharon. Em nossa casa nunca se ouviu um grito, um lamento, uma queixa. Suas águas nunca se agitam. Só diz: Sou uma Pobre de Deus, uma pobre de Nazaré. E eu, que mais poderia dizer? Não passo de um pobre de Nazaré. Não sou, nem quero ser outra coisa: só um poço de águas claras que reflitam a figura pobre e humilde de minha Mãe. ” (Trecho do livro O Pobre de Nazaré, de Inácio Larrañaga)

“Eu ouvi o Teu chamado e disse sim”, tudo parte da escuta, é impossível dar uma resposta para algo que nunca vi, nem ouvi. Mas a partir do momento em que ouço, abro o meu coração e me disponho a permitir que Deus seja o meu Senhor, a minha vida já não me pertence mais, mas pertence a Ele. E para alcançar tamanha graça é preciso esvaziar-se de si e permitir que Deus seja o Senhor de tudo e esse processo é doloroso. É necessário contar com a graça de Deus, deixando que Sua força nos vença a qualquer custo, porque estando cheios de nós mesmos, estaremos cheios dos nossos próprios planos, e é exatamente aqui que podemos nos perder, porque nossos planos atrapalham a vontade de Deus. E na vida de Nossa Senhora, ela permitiu que tudo acontecesse de forma contrária, pois não deu espaço para que seus ímpetos atrapalhasse as ações de seu Senhor em sua vida. O escravo (como Maria se coloca em algumas traduções bíblicas dizendo “Eis aqui a escrava do Senhor…”) não faz, nem pode fazer nada por vontade própria, ele só pode fazer a vontade de seu Senhor. É isso que Maria vem nos ensinar como uma grande “Pobre de Deus”, não impor nenhum direito próprio diante do Pai, porque numa vida da qual se decide entregar tudo, entrega-se também os direitos e deixa Ele fazer o que precisa ser feito e conduzir pelos caminhos que Ele desejar. 

E o sim de Jesus…

“Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: ‘Assentai-vos aqui, enquanto vou ali orar’. E tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: ‘Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo’. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: ‘Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres.’ Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: ‘Então, não pudestes vigiar uma hora comigo… Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca’. Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!”. (Mt 26,36-42)

Aceitar a vontade de Deus é um desafio constante pois, antes de qualquer coisa é preciso dizer sim e estar disposto a seguir os caminhos que Ele quiser, nossa vida passa a não mais nos pertencer… e no meio desse desvencilhar-se de si Ele nos aponta para o calvário. Esse é o risco que toda alma precisa correr, pois a partir de então é que começamos a viver as grandes experiências de voar ao encontro de Deus, sem tomar conta de nós mesmos, mas deixando que Ele tudo faça. 

Esse com certeza é o caminho para a morte que faz brotar vida de onde nada mais se encontra. A fragilidade, o medo, a angústia de Jesus naquele momento eram grandes, mas não o paralisou diante do que estava por vir e Ele sabia o que aconteceria. A dor, o pavor e o medo da morte foram derrotados porque a morte foi aceita. 

“Pois bem, em que se transforma quem se desprende voluntariamente de tudo? Vira o nada (...) E o que pode perturbar quem não tem nem quer ter nada?" (Trecho do livro O Pobre de Nazaré, de Inácio Larrañaga).

Não temos o direito de fugir da liberdade, e esta, a encontramos somente na cruz. Para vivê-la é preciso aceitá-la. Caminhos difíceis e dolorosos teremos sempre, mas a via para o céu é única, e se essa via não for trilhada, nos perderemos no meio do caminho. Não foi o que aconteceu com Jesus, porque Ele iniciou seu caminho e foi até o fim, fazendo-se NADA em TUDO. Os medos provém dos apegos, e se estamos com nosso coração depositado nas coisas terrenas como almejaremos a Cruz? O céu? A Deus? 

O esvaziar-se, vem composto de realmente deixar tudo que é da terra na terra, quem nada tem, NADA o pode perturbar e o desviar do caminho. O faça-se só acontece de fato em um coração vazio de si para Deus encher. Jesus mesmo cheio de Divindade, se apresentava diante do Pai como o mais Pobre de todos, o mais vazio de todos, o mais “precisado” de todos. Afastados do caminho da humildade que nos impedem de ver a face de Deus e reconhecer que é Dele que necessitamos em todo nosso  ser, seremos incapazes de aceitar que somos necessitados da cruz, pois ela pode passar a tornar-se uma ofensa a nós e não a nossa salvação. 

Como podemos olhar fixamente para Jesus crucificado e ainda nos colocarmos na posição daqueles que pedem os próprios direitos? O único direito que nós temos olhando para Jesus na cruz é não ter direito algum e aqui podemos reconhecer diante dele toda nossa pobreza. Não somos e nunca seremos nada diante de Sua santidade, mas ainda assim Ele nos chama, acredita, nos impulsiona e vai conosco até o fim. 

Entregando os "próprios direitos", damos abertura para o "FAÇA-SE EM MIM" e deixamos de "FAZER EM MIM". 

Bruna Bittencourt Macêdo,

Consagrada Com. Encontro


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ORAÇÃO DE COMBATE E TRANSFERÊNCIA DE TODO MAL

Início: Reze: “Chagas abertas coração ferido, o sangue de Cristo está entre nós e o perigo.” (3x). Reze a oração de São Bento: “A Cruz Sagrada seja a minha luz não seja o dragão o meu guia. Retira-te satanás nunca me aconselhes coisas vãs, é mau o que me ofereces, bebe tu mesmo o teu veneno.” Reze a pequena oração de exorcismo de Santo Antônio: “Eis a cruz de Cristo! Fugi forças inimigas! Venceu o Leão da tribo de Judá, A raiz de Davi! Aleluia!” Proclame com fé e autoridade: “O Senhor te confunda satã, confunda-te o Senhor.” (Zacarias 3,2) Reze: Ave Maria cheia de Graça... Oração: Eu (diga seu nome completo), neste momento, coloco-me na presença de meu Senhor, Rei e Salvador Jesus Cristo, sob os cuidados e a intercessão de minha Mãe Santíssima e Mãe do meu Senhor, a Virgem Maria, debaixo da poderosa proteção de São Miguel Arcanjo e do meu Anjo da Guarda, para combater contra todas as forças do mal, ações, ataques, contaminações, armadilhas, en

Oração para se libertar da Dependência Afetiva

Senhor Jesus Cristo, reconheço que preciso de ajuda. Cedi ao apelo de minhas carências e agora sou prisioneiro desse relacionamento. Sinto-me dependente da atenção, presença e carinho dessa pessoa. Senhor, não encontro forças em mim mesmo para me libertar da influência dessas tentações. A toda hora esses pensamentos e sentimentos de paixão e desejo me invadem. Não consigo me livrar deles, pois o meu coração não me obedece. A tentação me venceu. E confesso a minha culpa por ter cedido às suas insinuações me deixando envolver. Mas, neste momento, eu me agarro com todas as minhas forças ao poder de Tua Santa Cruz. Jesus, eu suplico que o Senhor ordene a todas as forças espirituais malignas que me amarram e atormentam por meio desses sentimentos para que se afastem de mim juntamente com todas as suas tentações. Senhor Jesus, a partir de agora eu não quero mais me deixar arrastar por esses espíritos de impotência, de apego, de escravidão sentimental, de devassidão, de adultério, de louc

Explicando a pintura "A volta do Filho Pródigo" de Rambrandt

"A volta do filho pródigo" de Rambrandt. O quadro, pintado dois anos antes da morte do artista, além da visualização de uma das mais bonitas e expressivas parábolas de Jesus, expressa a trajetória da vida do Rembrandt. É a reflexão sobre a condição existencial na maturidade da sua vida. O quadro "O retorno do Filho Pródigo" se encontra hoje no famoso museu Hermitage, em São Petersburgo, na Rússia. Conhecemos a parábola descrita por evangelista São Lucas (15, 11-32), o evangelista da misericórdia. Vamos conhecer como o pintor apresenta cada uma das pessoas envolvidas na história e o seu estado interior. As três figuras principais e outras três, em tamanho natural, formam uma unidade e a distância, para que se possa contemplar cada uma delas e interagir. O quadro apresenta a escuridão e a luz que ilumina as três figuras principais.   Voltar a casa. Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: pai, dá-me a parte da herança que me cabe. E o pa